
A crescente ameaça das bactérias resistentes aos medicamentos está chamando atenção não só na medicina humana, mas também na rotina veterinária. Animais de estimação, como cães e gatos, fazem parte do nosso dia a dia e, assim como nós, podem desenvolver infecções que exigem tratamento com antibióticos. O desafio é usar esses medicamentos com responsabilidade para proteger a eficácia dos tratamentos tanto agora quanto no futuro.
Por que o cuidado com o uso de antibióticos é tão importante?
Quando um antibiótico é utilizado de maneira inadequada seja na dose errada, por tempo insuficiente ou sem real necessidade aumentam-se as chances de surgirem bactérias que não respondem mais aos medicamentos tradicionais. Isso pode resultar em infecções mais difíceis de tratar, com maior risco para o animal e, em casos extremos, até para os humanos que convivem com ele.
Alguns antibióticos considerados essenciais na medicina humana, como fluoroquinolonas, cefalosporinas de última geração e macrolídeos, são frequentemente usados na medicina veterinária. Por isso, é fundamental preservar sua eficácia, restringindo seu uso a situações específicas, onde realmente são indispensáveis.
Práticas para uma prescrição responsável
Veterinários desempenham um papel central no combate à resistência bacteriana. Adotar medidas baseadas em evidências pode evitar o uso desnecessário de antibióticos. Algumas dessas boas práticas incluem:
1. Investigar com precisão antes de tratar
Antes de prescrever qualquer medicamento, o ideal é realizar uma avaliação completa, descartando causas não infecciosas para os sintomas. Quando uma infecção bacteriana for confirmada, sempre que possível, deve-se identificar o agente causador com exames laboratoriais e testes de sensibilidade, que mostram qual antibiótico é mais eficaz para aquele caso.
2. Evitar o uso de antibióticos por precaução
É comum que antibióticos sejam prescritos “por segurança”, especialmente após procedimentos cirúrgicos. No entanto, se o ambiente é controlado e as medidas de higiene são rigorosas, o uso preventivo raramente é necessário.
3. Seguir protocolos bem definidos
Estabelecer diretrizes dentro da clínica inclusive para tratamentos após cirurgias, limpeza dentária ou em infecções de pele e ouvidos ajuda a padronizar os cuidados e reduz o risco de uso excessivo.
4. Considerar tratamentos alternativos
Em certos casos, intervenções como drenagem de abscessos, reforço na hidratação, probióticos para suporte intestinal ou o uso de medicamentos tópicos (em vez dos sistêmicos) podem ser eficazes, com menor impacto sobre a resistência antimicrobiana.
5. Monitorar resultados e ajustar conforme necessário
Acompanhar a evolução do tratamento é crucial. Se não houver resposta clínica, uma reavaliação criteriosa deve ser feita antes de trocar a medicação ou adicionar um segundo antibiótico.
Educar tutores também é fundamental
Parte da responsabilidade também recai sobre os tutores. Muitos acreditam que antibióticos aceleram a recuperação de qualquer mal-estar ou infecção, e pressionam o profissional por uma receita. A conscientização sobre os riscos da resistência e o papel da prevenção com vacinação, controle de parasitas e boa nutrição é essencial para reduzir a necessidade de antibióticos.
Ações que clínicas podem implementar
Para garantir boas práticas, clínicas veterinárias podem instituir programas internos de controle do uso de antibióticos. Isso inclui nomear profissionais para acompanhar a adesão às recomendações, criar fluxos de decisão clínica, registrar dados sobre prescrições e revisar regularmente os protocolos adotados.
Essas medidas ajudam a identificar pontos críticos e ajustar comportamentos de forma eficaz, protegendo os pacientes e contribuindo para um esforço global de controle da resistência bacteriana.
Conclusão: Preservar hoje para tratar amanhã
O uso consciente de antibióticos em animais de companhia vai muito além de tratar infecções é uma questão de saúde coletiva. Cada prescrição deve ser avaliada com critério e responsabilidade. Ao adotar práticas seguras, tanto tutores quanto veterinários contribuem para manter esses medicamentos eficazes por mais tempo, protegendo a saúde dos pets e das pessoas.